Muro das Epidermutações | Marian Starosta
O Estado nazista, liderado por Adolf Hitler, foi responsável pelo extermínio de cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), o maior genocídio da história da humanidade. Dois terços dos judeus que viviam na Europa foram assassinados das formas mais cruéis possíveis.
Um terço dessa população sobreviveu por meio de lances de valentia e ousadia. O abandono da casa, da cidade, do país e dos amigos, rumo a qualquer lugar que pudesse lhes garantir uma sobrevida, marcou a trajetória traumática desses sobreviventes.
Além do trauma causado por mais essa diáspora forçada, todos passaram a conviver pelo resto de suas vidas, com as cicatrizes incuráveis da aterradora experiência de ter visto seus pais, avós, irmãos e uma infinidade de pessoas conhecidas sendo levados para os campos de extermínio, de onde nunca mais voltaram.
No Brasil, apesar das barreiras contra a imigração impostas pelo Estado Novo, com Getúlio Vargas no poder, as instituições judaicas já estabelecidas aqui conseguiram acolher um grande número de pessoas que fugiram dos horrores que ocorriam na Europa.
Os antepassados da fotógrafa Marian Starosta estavam entre esses. Ao perceber que as crianças que se salvaram do holocausto, sendo levados por suas famílias para outros países como o Brasil, hoje têm entre 70 e 100 anos de idade em média, a fotógrafa criou o projeto Viventes com o intuito de registrar para a história as memórias dessa última geração de sobreviventes.
Foram até agora 30 encontros com sobreviventes do holocausto e seus parentes em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. A emoção de reviver as suas traumáticas raízes pautou todo o projeto de Marian. O trabalho, que inicialmente, foi pensado para ser eminentemente fotográfico, se expandiu para a instalação, com paisagens sonoras, vídeos, objetos e fotografias editadas como uma constelação.
A arte de caráter fortemente político cumpre aqui seu papel de expor as contradições humanas, tocar em suas feridas, com o intuito de que histórias como essas não se repitam. Após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, voltamos a ver, ainda que em escala menor, outros tantos genocídios, frutos da intolerância, da falência da negociação política, do sectarismo retrógrado de toda ordem.
É preciso estar atento a retrocessos no processo político. Que a arte seja, também, um campo em vigília a nos alertar sobre as nossas próprias incoerências.
Eder Chiodetto