TEMA FFP21
Foto: Silmara Luz
RIODIVERSIDADE
Não subi a montanha à toa pra te mostrar o fim do começo:
Por onde anda o que daqui brotava?
Ninguém viu eu desconheço.
Era o parto das águas, agora sou eu que parto,
Não tem mais pesca, irrigação ou lavoura.
Ficou a seca, sede, escassez, desidratação.
Barro craquelado, não há arado que semeie esse agreste árido.
Aqui, nem chuva ácida.
Ah! Como era caudaloso aquele rio que tinha antes da usina
Já se foram os peixes, o que se tinha para comer
Água da bica não tem mais, nem a beira do ribeirão
A água afogou, sufocou, por conta da inundação.
Nem moinho, nem dínamo, nem monjolo a martelar
Agora só giram as turbinas com suas pás, sem sossego, sem paz.
Energia limpa?
Na bacia das almas hidrográficas, restou o esquecimento.
Promessa de outro morar, mas nem rede ou acampamento.
Muito menos, saneamento.
Quem de mim duvidar,
que venha nessas águas se banhar,
pois ninguém faz ideia
que aqui até a barriga é d’água,
Sua cólera é ira, a minha, diarreia.
Na Serra do Rola Moça e em Mariana
Barragem de contenção arrebenta
“Cabeça d’água” tóxica e “barrenta”
tsunami, arrastão.
Violação e estratagema
Moça sem reparação
Não rola mais a piracema
Acabou-se o que era o Rio Doce.
E no asfalto só piora
Terra da garoa, chuva e tempestade, cumulonimbus
Sem mata ciliar no limbo, lixo, acúmulo, sedimento no leito
Assoreamento
Rios encanados sem ter como escoar
O tal progresso tudo move
Enchente: leptospirose.
Embaixo da pele, suas veias
Abaixo do asfalto, seus canos
Entupidos pelo esgoto
Repleto de ateromas
Estouram aneurismas
Em suas galerias
Extravasam seu sangue
O lodo podre e fétido,
Não há ponte... safena que restaure essa artéria
Nem draga que expurgue essa latrina.
Óleo no mar do Nordeste...história obscura e sombria.
Poluição marinha, catástrofe ambiental.
Na apoteose da foz do rio
Pororoca vira piche, betume, lamaçal.
Rios e oceanos agora têm dono
Falta só privatizar o ar do entorno
Transposição dos rios... de dinheiro
Mercúrio, que é deus do comércio, envenena o peixe e mata o pescador.
Garimpa lucro e metal
Tragédia anunciada
Passando a boiada com apoio legal.
Oxalá Iara, Oxum, Netuno e Poseidon resgatem a pureza dos vales e mares.
Vingando Valdez, Minamata
Que nos tragam a benção da lucidez, da decência e respeito à natureza.
Que nos lave da ignorância inconsequente e nos dê discernimento para mantermos o legado de nossas águas para as futuras gerações.
Antes que seja tarde.
Carmem Peres
O FFParanapiacaba nos revela pela fotografia as ações humanas com a ÁGUA e suas consequências (quase) irreversíveis.
Venha discutir e refletir conosco outras perspectivas.